quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A Menina

E um dia ela acordou. Despertou da consciência. De súbito, tudo clareou. Entendeu o quanto não entendia!Correu para alertar os outros. Em vão. O pai falava da corrida e a mãe do caminhão. Eles estavam loucos!
Na rua todos atrás do ônibus. E tão pouco sabiam. Papéis nas mãos, alças nos ombros. Meu Deus, eles estavam loucos!
Agora sim ela via!Contavam, contavam...Andavam, andavam...Meu Deus, para onde eles iam?
Falavam, falavam...palavras de tudo vazias. E mascavam, mascavam...sem notar o que faziam. Meu Deus o que eles queriam?
O fato é que alguma coisa eles achavam que sabiam. E a menina eles não compreendiam.
E riam um riso frouxo. Já o da menina era riso de nervoso!Que angústia aquele bando de loucos!
E dançavam uma dança pronta, ensaiada...Ah Meu Deus, ninguem acordava!
E o discurso que decorado!Será que não tinha como desligar da tomada?
E falavam-se e riam-se e carregavam-se e gritavam-se e brigavam-se e almejavam-se. Mas na menina a angústia só crescia.
E choravam-se e planejavam-se e pediam-se e trocavam-se e confortavam-se e machucavam-se. Mas a menina de nada sabia!Ah que mal amada, pensavam!E às vezes ela compreendia. Do tamanho da loucura era o tamanho da alegria. Lucidez era uma dor, um sofrimento, punhalada funda.
Viver não mais podia.
E os bois ruminavam, ruminavam...e as pessoas comiam.
E as galinhas cacarejavam, cacarejavam...e as pessoas falavam.
E a menina se arrastava, arrastava...zumbia, zumbia...esperando que algo a encontrasse.
Ah que imensidão pequena, ela pensava!E às vezes até sorria. Já quase não se importava. Ela apenas ia, ia...
Meu Deus quanta ironia!
Ela achava que mais sabia porque sabia que não sabia de nada. Talvez quem sabe fingir que não soubesse que não sabia de nada?Ah, se ela não soubesse que não sabia...bem fácil ficaria!
Era só rir o riso frouxo e dançar a dança ensaiada e assim enganar que vivia. Ah, ela não mais se via!
A vagar em ciclos, comer petiscos, a tirar o siso, falar de bichos...
A somar as notas, comemorar as bodas, andar sobre rodas...
A ranger os dentes, passar o pente, reclamar que está quente...Meu Deus que decadente!Não é assim que se sente quando não se está dormente.
E enxugar seu pranto e escrever um conto, quem sabe em esperanto...Meu Deus que desencanto!
Viver não mais podia. E por que de fato ela existia?Ah, isso que ela não sabia...
E o que ela mais queria era morrer de filosofia porque no meio da monotonia morrer de amor não poderia.

6 comentários:

  1. Interessante.
    Mas talvez se tentasse outra forma, o texto ganharia outro ritmo, menos cansativo.
    Quando alcanço o meio da narrativa fica a impresão de que já está na hora de se encerrar.
    Porém é bom o que vem depois...
    Por isso sugiro tentar a mudança ou até fazer dois textos.
    De qualquer forma mostra fôlego. E isso é muito importante.

    ResponderExcluir
  2. Fôlego tenho eu caro anônimo!Crítica inteligente..pena não ter se identificado!abçs

    ResponderExcluir
  3. E que fôlego! Nem comentei o primeiro e já me deparado com o segundo...
    "Do tamanho da loucura era o tamanho da alegria", alegria de te ver por aqui!!

    Bjs

    ResponderExcluir
  4. Todos somos loucos...só depende do ponto de vista de cada um...

    ResponderExcluir
  5. ADORO ESTE TEXTO!

    A MENINA SOU EU.....PROVA DISSO É QUE A MÃE DELA FALA DE CAMINHÃO ENQUANTO O PAI FALA DA CORRIDA!!!!!

    AMEI !!!!

    ResponderExcluir
  6. muito legalll parabéns

    ResponderExcluir